Assim que assumiu a Secretaria de Estado de Cultura, Adriana Rattes fez uma visita que foi decisiva ao planejamento de sua gestão: aquela na qual conheceu as bibliotecas-parque de Medellín e as políticas de leitura de Bogotá, ambas na Colômbia. A experiência do país vizinho foi inspiradora para a criação da Biblioteca Parque de Manguinhos, que comemora seu primeiro ano de vida.
Nessa entrevista, a Secretária de Cultura conta como os números da biblioteca revelam um êxito acima do esperado: hoje, já são mais de 500 visitantes por dia. Também celebra a mudança de comportamento dos frequentadores, e revela como a palavra “afeto” foi fundamental nesse processo. Para ela, os moradores de Manguinhos estão dando um exemplo de cidadania para todo Rio de Janeiro. Um exemplo que ela espera ver repetido em Niterói e Rocinha, lugares que vão receber, nos próximos meses, bibliotecas no mesmo modelo que a de Manguinhos: um espaço de convivência de acesso livre a todos, que prega o respeito e a valorização do conhecimento.
Cultura.rj: Qual foi a fagulha que despertou a ideia das Bibliotecas Parque?
Adriana Rattes: Quando assumi a Secretaria de Cultura, descobrimos que havia no projeto do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] das Comunidades espaços destinados à atuação de políticas culturais. E começamos então a pensar que tipo de centro cultural, que espaço deveria ser desenvolvido nessas áreas. Ou seja: o que seria importante, o que seria mais necessário ou mais efetivo, no sentido de dar a cumprir a promessa do PAC, que era promover inclusão social, cidadania e qualidade de vida - no nosso caso, através da cultura. Na mesma época, fomos visitar o que naquele momento era uma experiência muito elogiada: o processo de pacificação e de requalificação das favelas de Medelín, na Colômbia. Já tínhamos ouvido falar também do projeto das bibliotecas-parque de lá, e isso acabou indo ao encontro de outra parte de nosso planejamento: a procura por políticas adequadas para o livro e a leitura. Visitamos [em 2008] bibliotecas e comunidades de Medelín e de Bogotá, que tem uma política de leitura muito intensa, extensiva e com resultados ótimos. Ficamos muito empolgados com essa ideia e decidimos que a marca da atuação da Secretaria de Cultura nas favelas e nas comunidades do PAC ou das UPPs deveria ser as Bibliotecas Parque.
Cultura.rj: O que mais chamou a atenção nessa visita às bibliotecas de Medelín e Bogotá?
Adriana: Primeiro, a ideia de que biblioteca não é o lugar para guardar livros ou onde as pessoas vão só para estudar. Biblioteca talvez seja o conceito mais moderno e ousado disso que que a gente convencionou chamar centro cultural. Eu digo mais moderno porque essas bibliotecas são muito bem aparelhadas, pensadas e estruturadas. E ousadas porque a proposição das bibliotecas-parque é que você cria cidadãos de primeira classe, uma vez que cria acesso à cultura, espaços de relacionamento e convivência, que toda a família pode frequentar, cuja programação e atividades são feitas para atingir a todas as idades. A melhor forma de inclusão social é através da democratização do acesso à informação e conhecimento. Outro dado muito moderno dessas bibliotecas é que elas têm uma programação muito ativa, um conteúdo intenso para além dos livros e de todo o acervo.
Enviado por Luciana Avellar.
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