sábado, 12 de março de 2016

No Dia do Bibliotecário, cabe novamente a pergunta: afinal, o que é uma biblioteca?



Dia 12 de março, Dia do Bibliotecário.

Gravura - o interior da biblioteca de Alexandria
Hoje, fui desafiado a fazer um texto sobre o Dia do Bibliotecário. Eu poderia falar muitas coisas, principalmente da importância que os bibliotecários e as bibliotecárias que atendem ao Instituto de Letras da UERJ tiveram em toda a minha vida acadêmica. Eu poderia falar das quantidades absurdas de pesquisa feitas ao longo da graduação, especialização e mestrado, que seriam muito mais complicadas sem eles/elas. Poderia falar da origem da biblioteca de Alexandria, de 288 a.C., ou de nomes relevantes para a Biblioteconomia, como Melvil Dewey, criador do CDD. Ou, ainda, e principalmente, poderia falar da minha completa falta de informação do que seria uma biblioteca ou um bibliotecário quando entrei na graduação, em 1992. Claro que eu já tinha entrado em uma biblioteca antes, mas quando somos crianças, não prestamos muita atenção a essas coisas de adulto... nem tive professor que me dissesse o que era uma biblioteca, ou o que fazia uma bibliotecária.

Ruínas da Biblioteca de Adriano, na Turquia.
Após trabalhar com revistas acadêmicas e diagramação de livros, revisão de textos e grande quantidade de bibliografias, acabei vindo trabalhar na Rede Sirius, uma biblioteca universitária de referência. Eu, que até então conhecia biblioteca como usuário (de fora para dentro), passei a ter uma visão de dentro para fora. Hoje, não consigo entender como esse segmento profissional me era invisível, não consigo ver uma sociedade do conhecimento sem o trabalho do profissional de Biblioteconomia.

Por tudo isso, decidi não falar algo novo, mas republicar um artigo postado aqui, em novembro de 2015. Assim, trago novamente o texto para o topo da página deste blog para dar a oportunidade de leitura àqueles que, atarefados, deixaram passar. Coloco no centro da cena a pergunta:

Afinal, o que é uma biblioteca?

O interior de uma biblioteca na Antiguidade, com pergaminhos
Fonte: portaldobibliotecario.com/2015/04/28/biblioteca-e-bibliotecario-ao-longo-da-historia/

Para os dicionários (Aurélio, Caldas Aulete, da Porto Editora), existem três acepções básicas: 1) uma coleção de livros para consultas e estudos; 2) um lugar onde essa coleção se encontra; e 3) uma estante ou móvel onde se guardam os livros. Percebo que essas definições não dão conta de explicar do que se trata. Não sou bibliotecário, falo apenas como mero usuário, um usuário que frequentou e frequenta bibliotecas e, por acaso ou destino, acabou indo trabalhar num núcleo administrativo de uma rede de bibliotecas de uma universidade pública.


Uma biblioteca é muito mais do que aquilo que qualquer definição possa nos apresentar. Existem quatro aspectos mínimos que devemos observar ao pensarmos em defini-la, igualmente importantes, que não devem ser desconsiderados. O primeiro é o físico: aquele lugar onde estão reunidas obras publicadas, ou manuscritos (sim, ainda é esse o nome que se dá às obras não publicadas); onde podemos consultar, escolher, cheirar, manusear os livros impressos e outros documentos; um lugar de encontro, troca de ideias, ou de aquisição de ideias novas.

Obras raras do MID / Rede Sirius
Foto por Elir Ferrari
Um segundo aspecto é o trabalho do/a bibliotecário/a. Um trabalho invisível para nós, meros usuários. Biblioteconomia é uma ciência que trata do arranjo e da organização, que administra a biblioteca, mas não só. A localização das obras interna e externamente, a aquisição de acervos, os registros das informações, referências, classificações, tudo isso é um trabalho muito complexo, pois é necessário relacionar obras, informações, assuntos localmente e nos sistemas que permitem a busca em/de outras bibliotecas; são enlaces imprescindíveis para uma pesquisa, essencial para a aprendizagem. Sem isso, estaríamos perdidos no meio dos livros e poderíamos nos afogar num mar de textos desconexos. A chamada Tecnologia da Informação, as bases de dados de pesquisa, as novas formas de gerenciamento de conteúdo dependem desse profissional, que faz esse trabalho que os usuários não sabem que existe. Sem contar com o auxílio luxuoso que nos dão no momento em que precisamos buscar conteúdos, ampliar nossa pesquisa, encontrar novos caminhos.

O terceiro aspecto é o que o usuário mais percebe. Por mais que a Internet já tenha modificado certas práticas de pesquisa e estudo, biblioteca é o lugar onde está o conteúdo para o conhecimento. Falo do conteúdo organizado, onde um fio leva a outro, desvelando o novelo que desenrola, mas mantém a linha condutora de ponta a ponta. Por mais que se encontre conteúdos na Internet (onde existem excelentes partes de bibliotecas, como eBooks, dicionários online, artigos acadêmicos), é na biblioteca que está a melhor organização, a separação por assunto ou área, onde se pode encontrar livros lado a lado, folheá-los e decidir quais servirão para a pesquisa. A Internet facilitou muito, permitiu encontrar livros que jamais imaginaríamos encontrar, que precisaríamos visitar várias bibliotecas para consegui-los, mas o que seria da Internet se esses livros não tivessem passado por uma organização e preenchimento das informações necessárias que permitem aos mecanismos de busca acessá-los? Mesmo buscando livros avulsos online, o papel da biblioteconomia se faz presente. Vale dizer que conteúdos organizados, referenciáveis, recuperáveis em busca online, dependem da biblioteconomia.

Encontro do livro impresso e eletrônico
O quarto aspecto é o das práticas sociais e discursivas. Livros e bibliotecas são queimados ao longo da história, seja por questões religiosas, seja por motivações políticas. Uma biblioteca bem servida pode representar uma ameaça a governos ditadores, ou grupos extremistas, mas são sempre libertárias, pois nos tiram da ignorância e nos inserem num mundo novo. A biblioteca está inserida nas práticas civilizatórias, nas culturas, na nossa vida, seja qual for a forma. Mesmo que nunca se tenha entrado em uma, é preciso sabermos que ela alimentou as disciplinas, as escolas, as universidades; ela permitiu os ensinamentos, os letramentos, facilitou o acesso, orientou e disponibilizou conteúdos, correntes teóricas, visões de mundo. Se uma cidade é construída, se uma doença é curada, se um celular foi inventado, muito se deve à biblioteca, que guardou e cuidou dos manuais, compêndios, projetos, relatórios e coleções de livros que registram os relatos e procedimentos para gerações futuras. 

Enviado por Elir Ferrari

segunda-feira, 7 de março de 2016

8 de março, Dia Internacional da Mulher.

Procurando uma imagem para representar a data comemorativa do Dia Internacional da Mulher, percebi que, procurar no exterior ou no Brasil é uma experiência diferente. Lá fora é mais claro que a data, hoje em dia, é um momento de pensar, de protestar, de lutar por igualdade, por direitos, por respeito, dia de lembrar de quais e quantas mulheres foram extremamente importantes em todos os campos das conquistas humanas e como as mulheres ainda são reprimidas, são mortas em maior quantidade, são assediadas, constantemente sofrem violência física e psicológica, passam a vida sob os olhos viciados de uma cultura e um mercado que só procuram beleza e perfeição. Mulheres não podem sair sozinhas sem medo. Mulheres acompanhadas de mulheres ainda assim se sentem sozinhas. Mulheres precisam de uma força sobre humana para saltar os obstáculos que ainda existem em seu caminho: o machismo, o obscurantismo religioso que quer controlar seus corpos, a diferenciação salarial, a discriminação profissional porque engravidam, a condenação psicológica e social quando não desejam ser mães.

Difícil escrever sobre isso sendo um homem. Queria apenas prestar meu mais sincero apoio. Tento fazê-lo todo santo dia, ainda mais trabalhando em uma unidade onde 90% das servidoras são mulheres.

Deixo aqui minha homenagem. E meu respeito. Com a imagem de uma mulher e não com uma flor. Flores são um sinal de amor, carinho, afeição. Na pirâmide das necessidades, as mulheres ainda precisam de muita, muita coisa mais importante que flores.

Enviado por Marcos Vasconcelos.