Nos últimos seis anos, a Universidade Harvard conseguiu
melhorar seus indicadores relacionados à transferência de tecnologia,
que representavam um ponto opaco no desempenho da líder de vários rankings internacionais de instituições de ensino superior. O número de invention disclosures,
documentos com a descrição de resultados de pesquisas para avaliar a
possibilidade de sua proteção por meio de direitos de propriedade
intelectual, aumentou de 180, no ano de 2006, para 351, em 2011. No
mesmo período, o número de patentes obtidas no escritório de marcas e
patentes dos Estados Unidos (Uspto, na sigla em inglês) subiu de 35 para
60, enquanto o de tecnologias licenciadas cresceu de 11 para 45. O
combustível dessa mudança foi uma reforma na estrutura e nas práticas do
Escritório de Desenvolvimento Tecnológico (OTD) de Harvard, voltada
para multiplicar a coo-peração entre a universidade e o setor privado.
Não por acaso, subiu de 12 para 75 o número de acordos entre Harvard e
empresas envolvendo a chamada pesquisa patrocinada, modalidade em que
companhias financiam o trabalho realizado em um laboratório da
universidade muitas vezes em troca de privilégio no licenciamento de
descobertas resultantes. O montante investido nesses acordos chegou a
US$ 37,2 milhões em 2011, quatro vezes mais do que o total de 2006.
Entre as empresas que celebraram parcerias estratégicas recentes com
Harvard destaca-se, por exemplo, a Novartis, para desenvolver fármacos a
partir de células-tronco junto com Lee Rubin, do Instituto de
Células-Tronco de Harvard.
O movimento feito por Harvard é exemplar de um fenômeno
que se esboça nos escritórios de transferência de tecnologia de
universidades – e não apenas naquelas de classe mundial. Além das
tarefas rotineiras, que consistem em identificar descobertas com
potencial econômico e protegê-las por meio de patentes, estes
escritórios abraçam várias outras atividades, como fomentar colaborações
de pesquisa de longo prazo entre empresas e laboratórios, auxiliar na
criação de empresas baseadas em tecnologias nascentes, arregimentar
investidores privados para financiá-las, oferecer a consultoria de
pesquisadores para a indústria e estimular o empreen-dedorismo já entre
os estudantes de graduação. “A experiên-cia mostra que é possível
alcançar resultados altamente positivos quando empresas e universidades,
a despeito de suas diferenças culturais, comprometem-se com parcerias
em que ambos os lados saem ganhando”, diz Todd Sherer, presidente da
Associação de Gestores de Tecnologia das Universidades (AUTM), entidade
que congrega 3,5 mil profissionais vinculados a 350 universidades,
instituições e hospitais de pesquisa em vários países e lhes oferece
treinamento e apoio sobre mecanismos de transferência de tecnologia.
A mudança em Harvard foi liderada por Isaac Kohlberg,
desde 2005 o chefe do OTD. Depois de trabalhar na Universidade de
Tel-Aviv, em Israel, onde fundou uma empresa com fins lucrativos para
comercializar as patentes de pesquisadores, Kohlberg ajudou nos anos
1990 a New York University a construir um ativo escritório de
licenciamento de patentes. Em Harvard, fundiu dois escritórios
existentes, ampliou o número de funcionários de 12 para 35 e renomeou os
antigos agentes de licenciamento de tecnologia como “diretores de
desenvolvimento de negócios”. Um dos destaques de sua gestão foi a
criação do Fundo Acelerador de Desenvolvimento Tecnológico, com recursos
de doadores privados, com a vocação de catalisar o desenvolvimento de
tecnologias ainda em estágio embrionário e facilitar o caminho para o
licenciamento e a comercialização. O fundo fornece aos cientistas de
Harvard os recursos necessários para conduzir pesquisas naquela fase
posterior à descoberta e anterior à comercialização, como experimentos
para gerar provas de conceito, modelos práticos capazes de testar
descobertas. “Provas de conceito ampliam bastante a possibilidade de
atrair a indústria para o licenciamento de uma tecnologia promissora”,
disse Curtis Keith, diretor científico do fundo. Profissionais da
indústria participam do processo de tomada de decisões do fundo, que já
investiu US$ 5,2 milhões em 33 projetos. Doze deles resultaram em
colaborações de pesquisa com a indústria e licenças de transferência de
tecnologia, que atraíram mais de US$ 10 milhões em parcerias para a
universidade. Uma pesquisa do professor de Harvard Tobias Ritter sobre a
adição de flúor em medicamentos para torná-las mais estáveis, potentes e
capazes de penetrar no cérebro foi apoiada parcialmente pelo fundo
acelerador. O projeto deu origem a uma empresa de Boston, SciFluor Life
Sciences.
A Universidade da Califórnia, em Berkeley, criou seu
Escritório de Licenciamento de Tecnologia em 1990, influenciada pela Lei
Bayh-Dole, de 1980, que assegurou às instituições de pesquisa
norte-americanas o direito de patentear descobertas feitas com
investimentos federais em pesquisa e licenciá-las para empresas. Nos
primeiros tempos, a estrutura do escritório separava o trabalho da
proteção da propriedade intelectual e a missão de busca de parceiros
privados para a pesquisa na instituição. Em 2004 foram unificados o
escritório de projetos patrocinados e o de licenciamento de tecnologia,
dando origem ao Ipira, sigla para Escritório de Propriedade Intelectual e
Alianças de Pesquisa com a Indústria. Segundo Michael Cohen,
especialista em licenciamento e empresas start-ups do Ipira, o
escritório hoje se preocupa não apenas em dar apoio a pesquisadores,
como também em estabelecer relações de múltiplas faces com as empresas
no longo prazo. Em 2009, Berkeley firmou 97 acordos de pesquisa
patrocinada com o setor privado, 25% mais do que em 2008. O Ipira busca
aproximar empresas de todo tipo aos 13 centros de pesquisa de Berkeley
que criaram programas de interação com o setor privado. Um exemplo é o
Center for the Built Environment de Berkeley, que pesquisa tecnologias
para aumentar a qualidade ambiental e a eficiência no uso de energia em
construções. Mais de 40 empresas de engenharia e arquitetura
afiliaram-se ao centro. Com isso, conquistaram o direito de influenciar a
escolha de linhas de pesquisa de curto e de longo prazo que sejam de
seu interesse, além de ter acesso a dados e pesquisas. Já o centro de
pesquisa Impact, voltado para ciência da computação e modelagem, oferece
às empresas associadas o trabalho de recém-formados “com formação
multidisciplinar e habilidades requeridas pela indústria” e prioridades
em contratos de licenciamento de propriedade intelectual.
O modelo da Universidade de Oxford, no Reino Unido, tem
duas peculiaridades: criou uma empresa para tratar do assunto e oferece
sua expertise para universidades e empresas de vários países na
forma de serviços e aconselhamento. Oxford aplicou na empresa, batizada
de Isis Innovation, £ 2,5 milhões no ano passado. O retorno desse
investimento chegou a £ 4 bilhões, na forma de royalties e
venda de participação em empresas. A empresa de Oxford atua em três
frentes. Uma delas é a comercialização da propriedade intelectual gerada
pela universidade. Em média, a Isis registra uma patente por semana.
Atualmente gerencia cerca de 400 patentes e um portfólio de 200 licenças
de comercialização de tecnologias. “As ideias saem da cabeça dos
pesquisadores e a transferência de tecnologia não existe sem eles”, diz
Tom Hockaday, diretor da Isis Innovation. “Nosso papel é ajudá-los e
também lembrar a universidade dos benefícios que ela pode trazer à
sociedade”. Uma segunda frente consiste em oferecer consultoria de
pesquisadores de Oxford a empresas e órgãos públicos. E a terceira
frente dedica-se a ajudar instituições de 30 países a comercializarem
suas invenções. Recentemente firmou acordos com instituições de pesquisa
da Rússia e abriu um escritório no parque científico de Madri, para
ajudar suas empresas a comercializarem tecnologias.
Um fator extra a impulsionar a transferência de
tecnologia e as parcerias com a indústria é a crise de financiamento
pela qual passam as universidades de pesquisa, que viram diminuir
investimentos de governos e doações de empresários desde 2008, ano que
marcou o início de um período de retração econômica mundial. “Nossa
preocupação principal em relação à crise econômica é seu impacto no
financiamento federal à pesquisa”, diz Todd Sherer, da AUTM. “O nível de
investimento federal determina o ritmo das invenções nas universidades,
hospitais e instituições de pesquisa. Se o número de invenções cresce,
avançam também as patentes, os licenciamentos, as start-ups e
os empregos.” Segundo estudo da AUTM, seus afiliados registraram cifras
da ordem de US$ 2,4 bilhões com licenciamento de tecnologia no ano
fiscal de 2010. O montante é 3% superior ao de 2009, mas 30% abaixo dos
US$ 3,4 bilhões contabilizados em 2008. O interesse, naturalmente, é de
mão dupla. Para as empresas, as parcerias com as universidades são uma
forma de partilhar custos em pesquisa e desenvolvimento em tempos de
crise – o que tem sido uma necessidade principalmente para as indústrias
farmacêuticas, carentes de lançamentos de fármacos inovadores. De
acordo com o estudo da AUTM feito com universidades afiliadas, a
pesquisa patrocinada por empresas manteve-se estável entre 2009 e 2010,
com investimentos na casa dos US$ 4 bilhões, enquanto os fundos federais
subiram de US$ 33 bilhões para US$ 39 bilhões.
No Brasil, a missão de buscar parcerias estratégicas com
empresas ainda é incipiente. A Agência de Inovação da Universidade de
São Paulo (USP) só recentemente começou a criar iniciativas concretas
para desenvolver colaborações. “Estamos procurando setores da economia
carentes de inovação e propondo parcerias orgânicas”, diz Vanderlei
Salvador Bagnato, diretor da agência. Em dezembro de 2011, a agência
lançou um programa em conjunto com a Associação Brasileira das
Indústrias Têxteis (Abit) para estimular colaborações entre
pesquisadores da USP e empresas. “Nossa indústria têxtil vem perdendo
competitividade”, afirma Bagnato. “A pesquisa da USP pode ajudar as
empresas de várias formas a enfrentar a concorrência”, afirma. A agência
já mira outros setores para interagir nos próximos anos, como o da
indústria eletromecânica e de cosméticos. Segundo Bagnato, uma
dificuldade para as agências de inovação do país consiste em encontrar a
clientela para suas tecnologias. “Temos de ir atrás dos clientes e
mostrar como podemos ajudá-los. Somos uma universidade pública que tem
entre suas missões transformar o conhecimento em bem-estar para a
sociedade”, afirma. Outra preocupação da agência da USP é azeitar os
convênios entre universidades e empresas. “Temos pelo menos duas
centenas de projetos desse tipo na universidade e conseguimos avançar no
combate à burocracia. Por determinação da reitoria, o trâmite de uma
parceria, depois que a empresa demonstra interesse prático em fazer um
convênio com a USP, não pode demorar mais do que 30 dias”, diz Bagnato.
No caso da Agência de Inovação da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), o trabalho de aproximação com empresas tem se baseado
em rodadas de interações tecnológicas, encontros entre pesquisadores da
instituição e representantes de empresas com as quais poderiam
colaborar. “Mesmo não suscitando colaborações imediatas, essas rodadas
são importantes para mostrar para as empresas como poderíamos ajudá-las e
mostrar para os pesquisadores como podem interagir com o setor
privado”, diz Vanderlan Bolzani, diretora da agência. Entre as
companhias que participaram dessas rodadas, iniciadas em 2009,
destacam-se a Natura, a Whirlpool, a Cristália, a AstraZeneca, a Biolab,
a Sabesp e a Sadia. As universidades brasileiras têm se notabilizado
pela produção científica, diz Vanderlan, mas ainda persistem
dificuldades em aplicar este conhecimento em projetos de interesse do
setor industrial e também em atrair as empresas para investimentos em
pesquisa fundamental que possa resultar num desenvolvimento mais tardio.
“Embora a Lei de Inovação tenha sido implantada para agilizar as
parcerias entre univesidades e empresas, ainda há dificuldades de
natureza burocrática”, afirma. Na esperança de ampliar a interação, a
agência da Unesp planeja lançar um cadastro de pesquisadores
reconhecidos pela agência por sua vocação para celebrar parcerias com
indústrias. “Nossa expectativa é que muitos pesquisadores não citados
tomem a iniciativa de se cadastrar”, afirma Vanderlan. Criada em 2007 e
regulamentada em 2009, a Agência Unesp de Inovação registrou nos últimos
dois anos 133 patentes, 53 contratos de inovação com empresas e 2
licenciamentos de tecnologia, um deles para uma empresa norte-americana.
A ideia de associar o trabalho de proteção de
propriedade intelectual com a prospecção de parcerias com empresas não
chega a ser uma novidade no Brasil, observa Roberto de Alencar Lotufo,
diretor da Agência de Inovação Inova Unicamp, da Universidade Estadual
de Campinas. “A nossa agência foi criada em 2003 já reunindo estas três
atividades que em muitas universidades acontecem em órgãos separados”,
diz Lotufo, que participa da Associação de Gestores de Tecnologia das
Universidades (AUTM). A grande diferença entre o Brasil e os Estados
Unidos, observa Lotufo, diz respeito à capacidade e experiência em
inovação, tanto do meio empresarial como acadêmico. “No Brasil, ainda
são poucas as empresas que investem em pesquisa e desenvolvimento. Já
nos Estados Unidos o foco em inovação das empresas é muito maior que
aqui e uma boa parcela da comunidade acadêmica lá está engajada na
inovação tecnológica. Isso faz muita diferença”, afirma. Entre 1980 e
2005, a Unicamp foi a vice-líder no país em patentes, com 405 depósitos
no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Só perdeu para a Petrobras, com 804 depósitos. Entre 2000 e 2011, celebrou 53 contratos de licenciamento de tecnologia, sendo 10 só no ano passado, tendo gerado R$ 2 milhões em royalties desde 2005. Ajudou a fechar mais de 300 projetos colaborativos com empresas, no total de R$ 65 milhões. Também mantém uma rede de relacionamentos, denominada Unicamp Ventures, composta por empresários, na maioria ex-alunos, fundadores de mais de 220 empresas com vínculo com a universidade. “Esses empreen-dedores constituem atores imprescindíveis do ecossistema de inovação da região, trazendo oportunidades, orientação e financiamento no apoio na criação de empresas start-ups”, diz Lotufo. A FAPESP mantém desde 2000 o Programa de Apoio à Propriedade Intelectual (Papi), criado para estimular a proteção da propriedade intelectual e o licenciamento de direitos sobre os resultados de pesquisas financiados pela Fundação. O programa apoia pesquisadores e instituições, e também é voltado para o aprimoramento dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) das universidades e instituições de pesquisa paulistas.
no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Só perdeu para a Petrobras, com 804 depósitos. Entre 2000 e 2011, celebrou 53 contratos de licenciamento de tecnologia, sendo 10 só no ano passado, tendo gerado R$ 2 milhões em royalties desde 2005. Ajudou a fechar mais de 300 projetos colaborativos com empresas, no total de R$ 65 milhões. Também mantém uma rede de relacionamentos, denominada Unicamp Ventures, composta por empresários, na maioria ex-alunos, fundadores de mais de 220 empresas com vínculo com a universidade. “Esses empreen-dedores constituem atores imprescindíveis do ecossistema de inovação da região, trazendo oportunidades, orientação e financiamento no apoio na criação de empresas start-ups”, diz Lotufo. A FAPESP mantém desde 2000 o Programa de Apoio à Propriedade Intelectual (Papi), criado para estimular a proteção da propriedade intelectual e o licenciamento de direitos sobre os resultados de pesquisas financiados pela Fundação. O programa apoia pesquisadores e instituições, e também é voltado para o aprimoramento dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NIT) das universidades e instituições de pesquisa paulistas.
Algumas instituições foram pioneiras na criação das
novas estratégias para transferência de tecnologia. A Universidade
Stanford é uma delas. Incrustada no Vale do Silício, berço de empresas
inovadoras desde a década de 1950, Stanford foi especialmente feliz na
criação do que se convencionou chamar de um “ecossistema de inovação”.
No ano fiscal que terminou em agosto de 2011 obteve uma receita de royalties
de US$ 66,8 milhões – 98% desse montante veio de tecnologias
licenciadas há vários anos. As 501 invenções apresentadas ao escritório,
60% em ciências físicas e 40% em ciências da vida, resultaram em 101
licenciamentos. Ao final de 2011, Stanford tinha participação em 109
empresas oriundas de tecnologias criadas na instituição. A venda da
participação em cinco empresas no ano fiscal rendeu US$ 2,4 milhões. Seu
Escritório de Licenciamento de Tecnologias (OTL) concluiu 1.100 acordos
com instituições com e sem fins lucrativos em 2011. Desses, 120 são
contratos de pesquisa patrocinada por empresas. Um fundo de capital
semente do OTL oferece quantias de cerca de US$ 25 mil para patrocinar
protótipos e experimentos em tecnologias não licenciadas. Oitenta e sete
projetos já usaram esse financiamento.
Stanford criou em 1970 um escritório de patentes que se
tornaria referência para as demais instituições. Seu criador foi o
engenheiro Niels J. Reimers, contratado em 1968 para ampliar o apoio de
empresas e do governo a projetos da instituição. Ele constatou que
existia interesse comercial em muitas das invenções apresentadas pelos
pesquisadores de Stanford. Mas, embora a universidade mantivesse
parcerias com empresas desde a década de 1950, o retorno obtido por
licenciamento nos 15 anos anteriores era pífio. Ele foi conhecer os
modelos de outras instituições, como os escritórios das universidades da
Califórnia e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), e observou
que não serviam a seus propósitos: eles abrigavam advogados
especialmente interessados em proteger as invenções, paten-teando-as,
para só depois pensar em levá-las para a sociedade. Propôs um
programa-piloto que criava um escritório com funcionários encarregados
de comercializar as invenções e com autonomia para trabalhar,
terceirizando a atividade dos advogados e oferecendo algumas vantagens
para os inventores. Quando o programa foi avaliado em seu primeiro
aniversário, havia produzido uma renda de US$ 55 mil – mais de 10 vezes o
valor recebido em 15 anos de licenciamento. Em 1974, Reimers leu no
jornal The New York Times o anúncio de uma técnica chamada gene splicing,
criada pelos professores Stanley Cohen, de Stanford, e Herbert Boyer,
da Universidade da Califórnia. Em 1981 ofereceu licenças para uso da
tecnologia. Setenta e três empresas se habilitaram. Até 1997, quando as
patentes expiraram, rendiam a Stanford US$ 30 milhões por ano.
A experiência influenciou a filosofia do escritório de Stanford, que se esmera numa estratégia conhecida como home run,
referência à jogada mais cobiçada do beisebol. “Estamos mais
interessados em patentes de conceito amplo do que de interesse
restrito”, escreve Katherine Ku, diretora do escritório de Stanford, num
artigo recente. Tentar adivinhar qual será a tecnologia mais apropriada
para licenciamento é tarefa de resultado sempre incerto. Stanford
produz uma invention disclosure para cada US$ 2,5 milhões de
financiamento da pesquisa. Só 32 das 600 tecnologias atualmente
licenciadas geraram mais de US$ 100 mil em royalties. E apenas
seis geraram mais de US$ 1 milhão. Para cada caso de sucesso como o
Google (que rendeu a Stanford mais de US$ 300 milhões), há um punhado de
tecnologias que acabam custando mais do que o investimento feito nelas.
Um ponto forte de Stanford é a criação de start-ups, empresas
desenvolvidas a partir da propriedade intelectual da instituição –
embora o ano de 2011, por conta da crise, tenha sido fraco: 8 empresas
foram formadas, ante 10 em 2010, 9 em 2009 e 14 em 2008.
Stanford ganha mais em royalties do que em participação em jovens empresas. Mas a decisão de estimular a criação de start-ups
é estratégica para amplificar a transferência de tecnologia para a
sociedade. “Entre as grandes empresas, muitas estão satisfeitas com o
próprio esforço de pesquisa e desenvolvimento. A maioria de nossa
atividade de licenciamento é com as pequenas empresas, que não podem se
dar ao luxo de gastar muito dinheiro em P&D”, disse Katherine Ku.
Para outra instituição com grande tradição em
transferência de tecnologia, o MIT, um ponto de inflexão remonta ao ano
de 1986, quando Lita Nelsen, engenheira química formada na instituição
20 anos antes, assumiu o comando do Escritório de Licenciamento de
Tecnologias (TLO) e mudou seus métodos. Antes do TLO, Lita havia atuado
em empresas de biotecnologia. Sua primeira medida foi excluir os
advogados, terceirizando seu trabalho. A equipe hoje dispõe de 34
funcionários, entre os quais 10 gerentes e 8 assessores de transferência
de tecnologia. Para atuar como gerente no TLO é preciso ter formação
científica e experiência de pelo menos 10 anos na indústria. A
brasileira Ana Lopes, 30 anos, que atuou por quatro anos como assessora
de transferência de tecnologia, sabia que dificilmente se tornaria
gerente, a escala seguinte na hierarquia. “Me formei em astronomia e me
interessei por trabalhar com transferência de tecnologia. Mas me faltava
a experiência na indústria”, diz. Ela deixou o TLO em 2011 para
trabalhar na E-Ink, uma empresa spin-off do MIT, que fabrica papel digital flexível.
O TLO cuida do relacionamento com a indústria no que se
refere a licenciamentos. Há outras estruturas para tratar da cooperação
com o setor industrial, como o Escritório de Programas Patrocinados
(OSP) e o Programa de Ligação Industrial (ILP). O ecossistema inovador é
alimentado por uma série de outras iniciativas. O Centro Deshpande para
Inovação Tecnológica, criado em 2002, financia pesquisas em estágio
inicial, com potencial de transferência, e oferece aos empreendedores
aconselhamento de especialistas da indústria. Uma competição organizada
pelos estudantes oferece US$ 100 mil para o melhor plano de negócios.
Clubes de empreendedorismo se espalham em todas as unidades da
instituição.
O modelo do MIT é diferente do de Stanford e adota a
chamada “estratégia de volume”. Como lida com tecnologias das ciências
físicas, o MIT acredita que é melhor negociar muitos contratos do que se
ater apenas a contratos com as melhores ofertas, a fim de garantir a
transferência para a sociedade. Segundo Lita Nelsen, a estratégia de
volume maximiza tanto a participação de estudantes e pesquisadores no
processo de transferência tecnológica quanto a possibilidade de
conseguir um home run que rendeu US$ 3 milhões e 120
divulgações da invenção. Em 2010 foram 100 licenciamentos, que renderam
US$ 75 milhões, e 600 divulgações de invenção por ano. Segundo Lita, o
objetivo é fazer as tecnologias chegarem à sociedade. “Gerar receita é o
resultado disso, não a razão principal”, sempre repete. Cerca de 300
empresas já foram geradas a partir de tecnologias criadas pelo MIT desde
1984 – e 80% sobreviveram. Um exemplo recente é a 3Gear Systems, que
desenvolve aplicações para uma luva colorida e um sistema de algoritmos
que se propõe a substituir o mouse.
Fonte: Revista Pesquisa/Fapesp
Enviado por Sandra Mueller.
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