Em um primeiro momento, a única coisa clara é que a ideia era ousada, diferente. Paradoxalmente, era uma ideia ao mesmo tempo original e atávica - o samba, queiramos ou não, permeia a vida de quem mora e trabalha no Rio de Janeiro. O fato, contudo, era que nós não tínhamos, na realidade, uma ideia formada. Haveria alguma forma de verdadeiramente conectar o carnaval às bibliotecas? O que poderia justificar essa escolha, além do gosto pessoal de grande parte dos integrantes da Rede Sirius?
Se alguém nos perguntasse, naquele dia, onde poderia chegar a ideia da comemoração dos 50 anos da Rede com o carnaval como tema, todos nós teríamos errado miseravelmente qualquer prognóstico. Afinal, tudo o que tínhamos em mãos eram fragmentos de caminhos. O encontro com o Prof. Felipe Ferreira, do Centro de Referência do Carnaval da Uerj, abriu para nós uma passarela de possibilidades e ligações, por onde depois viria a passar todo o fantástico trabalho realizado nesses meses em que construímos esta comemoração.
Primeiro, a clareza de nossa ligação com o samba e o carnaval se fez. Ainda que hoje quase toda pesquisa se realize em grande parte na Internet, onde mais, senão em bibliotecas, arquivos e museus, foi feita a pesquisa histórica que norteou as centenas de enredos que desfilaram pelas passarelas do samba em todas as épocas? E como esquecer que estamos localizados em um bairro cercado por algumas das maiores Escolas de Samba da história, como Mangueira, Salgueiro e Vila Isabel, entre outras? e mais: como ignorar que a Uerj, estadual e pública que é, tem sua base mais forte em sua presença junto à comunidade?
Depois disso, já com nossa ideia inicial devidamente lastreada, surgiu em nosso céu a figura de Jack Vasconcelos, carnavalesco, que convidado a pensar em um enredo para nossa comemoração, fez muito mais que isso. Jack sonhou a Rede Sirius como uma Escola de Samba, cruzando a Sapucaí em um desfile magistral, levando uma bandeira violeta e branca e cantando um enredo baseado na estrela de primeira grandeza que temos como nome. Guiados pelo Bibliotecário de Arcimboldo, personagem de uma conhecida pintura renascentista, o desfile nos levaria através dos tempos e dos povos, ligando a luz do astro ao conhecimento que, para muitas antigas civilizações, a estrela simbolizava. Viajamos pela antiga Mesopotâmia, pelo Egito, Grécia e Roma, atravessamos a Idade Média e nos iluminamos com o brilho de Sirius ao chegarmos aos dias modernos e contemporâneos.
Todo este enredo foi escrito e desenhado, em um trabalho primoroso do carnavalesco, e foi transformado em um livro e uma exposição de arte. Uma das fantasias imaginadas por Jack Vasconcelos - a Baiana - foi produzida em escala real e também estará exposta na Rede Sirius. Mas ainda faltava alguma coisa. E o que faltava era o samba que daria a alegria e carnavalizaria em definitivo a nossa comemoração. Os compositores Márcio André e Maurício 100, da União da Ilha do Governador absorveram o enredo de Jack Vasconcelos e criaram um belíssimo samba-enredo, que muito nos emocionou.
Hoje, é o dia de nossa comemoração. Neste exato momento, o evento e o coquetel realizados na Capela Ecumênica da Uerj, com a presença dos dirigentes da Universidade, dos servidores da Rede Sirius e da comunidade da Uerj, sob o som dos ritmistas da União da Ilha, marcam o fim do nosso desfile, a nossa apoteose. Um longo caminho percorremos, onde tentamos trabalhar com harmonia, sem atravessar o samba e sempre lembrando que todo este trabalho foi feito em nome de uma festa, uma celebração de alegria e conquistas. Pedimos desculpas por expectativas que porventura não tenham sido cumpridas mas temos a certeza de que fizemos o que de melhor estava ao nosso alcance.
E por fim, nosso especial agradecimento a todos os que nos ajudaram no caminho, trabalhando ou apenas apoiando e torcendo. Sem essas pessoas - e são muitas mesmo, nem a metade aparece nessa foto (clique nas imagens para vê-las em tamanho maior) - teria sido impossível realizar este trabalho.
Feliz aniversário, Rede Sirius. Que sua estrela brilhe cada vez mais, pelo tempo que for.
Enviado por Marcos Vasconcelos, Luciana Avellar e Ana Claudia Pitança.