segunda-feira, 13 de maio de 2013

As cidades de leitores


Como se constrói uma cidade de leitores? A pergunta é complexa, mas a resposta é menos difícil do que parece. Está embutida nos problemas e carece mais de ações efetivas, articuladas entre poder público e sociedade, que de ideias mirabolantes. À leitura obrigatória, enfadonha, apenas avaliativa das escolas, aplique doses generosas de leitura por prazer. Contra a falta de hábito leitor entre os próprios professores, livros como antídoto: dê também a eles a chance de escolher o que querem ler, para além do exigido pelo plano de aula. Ante a ausência de profissionais capacitados para estimular práticas leitoras, forme bibliotecários, líderes comunitários, professores; torne-os multiplicadores de leitura. Se as bibliotecas são poucas, que sejam boas: torne o espaço agradável, renove constantemente o acervo, faça uma ponte com outras linguagens e tecnologias.

Foi para atacar essas deficiências, com as ações citadas acima, que nasceram projetos como o São Paulo Um Estado de Leitores, implantado desde 2003, e Rio Uma Cidade de Leitores, a partir de 2009. Em ambas as iniciativas, um ponto em comum: vontade política. “Falta o governo embarcar numa ideia, vestir a camisa, investir recursos para que se crie um conjunto, um guarda-chuva de ações, todas interconectadas”, diz José Luiz Goldfarb, mentor dos programas nos dois estados, doutor em História da Ciência, mestre em Filosofia e curador do prêmio Jabuti de Literatura – principal comenda do mercado editorial brasileiro. Para ele, “a tragédia no Ceará, em São Paulo, no Rio de Janeiro, e em muitos estados brasileiros, é que nossos políticos não leem”.

Onde se decide ter uma política pública de incentivo à leitura, diz Goldfarb em entrevista por telefone, é preciso agir em três eixos: ampliação e renovação constante de acervo – não só o das escolas –, formação de multiplicadores de leitura nas comunidades, nas salas de aula e nas bibliotecas, além de promoção do livro, do hábito de ler em todas as mídias possíveis: da internet ao outdoor. Dentro de cada eixo, ações específicas e cotidianas que garantam o sucesso da iniciativa.

No Rio de Janeiro, exemplifica Goldfarb, coordenador do programa implantado lá, a renovação do acervo se deu não apenas em nível pedagógico ou restrito às bibliotecas escolares. Mas entre os professores, com a criação do projeto “Biblioteca do Professor”. “Desde 2009, a cada três meses, cada professor da rede ganha dois livros: um de literatura nacional e outro de literatura estrangeira. Ao longo de quatro anos, o professor criou uma biblioteca sua, com livros de sua preferência”, conta ele. A ideia surgiu do diagnóstico de que mais de 60% dos professores não liam por prazer. “Claro que o professor lê, mas as leituras que são necessárias para o seu trabalho. A leitura por prazer é a pessoa que lê uma quantidade de livros muito alta por ano porque ela junta ao seu lazer, ao seu entretenimento a leitura”, diz Goldfarb.
Sabendo que a leitura obrigatória atrai menos ainda o jovem, em ano de Bienal do Livro, caso deste, cada escola do município carioca recebe um vale entre R$ 600 e R$ 900 para abastecer sua sala de leitura, além do vale recebido pelos professores e alunos. “O jovem não volta pra sala de leitura, pra biblioteca, se não tem novidade. Tem de ter renovação, tem de ter aumento de novidades. Se a gente quer criar uma cidade de leitores, a gente precisa passar por essa questão da leitura por prazer”, enfatiza Goldfarb.

Leia mais:

(do site Observatório da Diversidade Cultural)

Enviado por Helio Shiino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários feitos no Blog da Rede Sirius são passíveis de aprovação. Comentários sem identificação ou de conteúdo ofensivo não serão autorizados.