sexta-feira, 10 de junho de 2011

O futuro dos livros, por James Warner

2020: Todos os livros serão multiplataforma e interativos

Os “livros” do futuro serão agrupados com trilhas sonoras, leitimotivs musicais, gráficos em 3-D e vídeo em streaming. Serão aprimorados com marcadores de página coletivos, namoro online e alertas emitidos por aplicativos sociais geolocalizados a cada vez que alguém na sua vizinhança comprar o mesmo livro que você — qualquer coisa desde que você não precise de fato ler a coisa. Autores vão fazer seu próprio marketing, o leitor será responsável pela distribuição, a sabedoria das multidões se encarregará da edição e a mão invisível do mercado vai cuidar da escrita (se houver alguma). Escritores reagirão tornando-se virais ou animais.

2030: Todos os livros serão financiados em crowdsourcing e armazenados na nuvem

Romancistas vão começar elaborando seus personagens na forma de séries de bonecos de vinil. Se eles gerarem um boca-a-boca razoável, fãs produzirão o romance colaborativamente como um wiki. Conforme você estiver lendo, câmeras termais medirão seus sinais fisiológicos, incluindo oscilações no movimento ocular, contrações dos músculos faciais e batimentos cardíacos, para determinar que rumo você deseja que a história tome em seguida — será esperado que ela leia a si mesma, explique-se e combine de modo não intrusivo no diálogo as mensagens de texto que você for recebendo. Você também será capaz de ajustar com precisão a figuração digital dos personagens, de atirar neles, e (quando imperativo) de entregar-se ao cybersexo. Se um romancista for descoberto postumamente, seus bonecos de vinil podem acabar se tornando itens de colecionador.

2040: Autores serão como tamagochis

Tendo determinado que o que os leitores buscam é um “sentimento de conexão”, editores vão organizar campanhas adote-um-autor, reposicionando escritores no estilo dos Backyardigans e outros animais de estimação imaginários. “Alimentar” seus autores favoritos comprando seus livros fará com que seus avatares virtuais fiquem menos pálidos e entediados. Se eles morrerem de fome sob sua guarda você perderá pontos nas redes sociais. Clubes do livro cultivarão com seus escritores favoritos o mesmo tipo de vínculo caloroso, aconchegante e orgânico que um treinador desenvolve com o seu ou sua Pokémon, um processo que culminará em encontros de luta-até-a-morte entre seu autor e o autor patrocinado por outro clube do livro. Essas lutas ocorrerão offline, já que ainda haverá uma ou duas livrarias existentes, e alguma coisa vai ter que acontecer por lá.


(do caderno Prosa e Verso, jornal O Globo)

Enviado por Denise D'Ávila.

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